78 anos do Dia-D: o que chegou às praias da Normandia

Neste 6 de junho de 2022 o mundo livre comemora mais um aniversário do desembarque de 160.000 norte-americanos, ingleses e canadenses e o lançamento de 24.000 de seus paraquedistas na Normandia, dando início à libertação da França e ao avanço militar aliado através da Europa que poria fim à Segunda Guerra Mundial.    

Poucas datas podem ser tão lembradas e comemoradas como esta. Em 1944, ao longo de todo esse dia, soaram os sinos das igrejas nos Estados Unidos, unindo as preces da população pelos seus soldados na mais decisiva batalha do século XX.

Fazia cinco anos que um déspota alçado ao poder pelo ódio, depois de vociferar contra o mundo, cumprira suas promessas, invadindo, destruindo, ocupando, roubando, devastando e massacrando a maior parte da Europa Ocidental. A promessa de armas inacreditáveis, o fortíssimo aparato militar remanescente de suas aventuras e a submissão do povo alemão à sua vontade faziam-no parecer invencível e inalcançável. Foi preciso quase mais um ano de luta para que o idólatra do ódio fosse vencido e a Europa começasse a ser reconstruída e, depois de encerrado o conflito, mais meio século para se ver livre da ameaça de guerra, ocupação e exploração imposta por outro totalitarismo.   

Hoje é essa Europa renascida que, assombrada, assiste a um novo autocrata também alimentado pelo ódio fazer o mesmo a uma nação que dela faz parte pela História e a ela quer se unir pela prosperidade. Não há comparação entre o que se passou há quase oitenta anos e o que acontece hoje na Ucrânia, ainda que possamos estar no limiar não percebido de uma nova guerra mundial.

Porém, mais uma vez, o destino de centenas de milhões de pessoas, dentre as quais nós, que nos julgamos distantes da Ucrânia, depende do que milhares de soldados fazem no campo de batalha. Dessa vez, são os soldados ucranianos que travam uma luta desesperada pela sobrevivência de seu país. É também com grande ansiedade que os europeus ocidentais assistem a essa luta, ensinados pela História que dela dependerá não virem os seus soldados a combater em alguma praia ou campo de batalha não tão distantes em futuro incerto.

Naquele longínquo 6 de junho, foi realmente algo muito poderoso que fincou o pé nas praias e pântanos da Normandia, do que emergiu a vontade de não mais se dobrar ao totalitarismo e o compromisso de não voltar as costas a quem quer viver sem medo, a última liberdade das quatro que Roosevelt enunciara três anos antes, somada à liberdade de expressão, liberdade religiosa e liberdade de viver sem penúria, com dignidade.

Esse foi o grande ensinamento que o trágico século XX nos legou, a de que não existe causa mais elevada do que a liberdade: a ausência de opressão. Mas, por vezes, parece que não conseguimos aplicar essa lição ao emaranhado de acontecimentos que nos envolve.

Por que Churchill recusou a inexorabilidade da vitória de Herr Hitler quando tudo parecia perdido depois do desastre aliado na França em 1940? Por que hoje a Ucrânia e o seu povo, diante de tanto sofrimento e destruição, coagidos por desproporcional poder militar e submetidos a pressões de toda espécie não se rendem? O que é tão forte ao ponto de despertar o Ocidente de sua letargia para formar com a Ucrânia?  

A paráfrase da famosa frase dos anos 90 responde:  

É a democracia estúpido!

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