Foi assim que Joseph Stalin escarneceu da ideia do ministro francês Pierre Laval sobre uma eventual bênção do Papa à aliança franco-soviética face à ameaça da Alemanha nazista antes da Segunda Guerra Mundial.
Afinal, que poder teria o Papa para impedir as perseguições a católicos na União Soviética, para deter a agressão de Hitler, para condenar a perseguição do regime colaboracionista francês aos judeus e para evitar que se abatesse sobre a Europa Oriental a Cortina de Ferro depois da guerra?
Foi a História que respondeu à pergunta de Stalin. Mais do que a derrocada dos regimes que tinham mais divisões do que o Papa, foi a força moral da Igreja Católica numa Europa ocupada pelo nazismo e tutelada pelo comunismo que permitiu a ela, no final do século XX, renascer no esplendor da sua cultura.
Porém, bastaram trinta anos para que a suposição do fim da História levasse os europeus a esquecerem o que são. Imaginando que o conforto, a beleza e a afluência de suas sociedades laicas de bem-estar haviam resolvido suas grandes questões, não esperavam que as suas certezas fossem abaladas.
Num átimo, seu mundo de liberdades foi colocado em xeque da maneira mais brutal possível: pela guerra. A despeito de todos os cálculos, da conjunção das melhores inteligências, da pletora de recursos e da vontade política das maiores potências, o desafio à ordem mundial prossegue, exibindo armas cada vez mais poderosas, desprezo pela vida humana e desrespeito às normas de convivência entre povos e nações.
Da torrente de informações que jorra da imprensa, das declarações contraditórias de líderes que se movem pelo cálculo político, econômico, militar e eleitoral, das especulações intermináveis de centros de pesquisas estratégicos e do vazio existencial de sociedades que perderam o sentido não virão as respostas ao desastre civilizacional que está às nossas portas. Falta-nos o essencial para confrontá-lo. Para renunciar a nossos mais caros projetos. Para abandonar as posições confortáveis a que nos levaram nossas crenças.
No terrível século XX, quando se abriram abismos ao redor do planeta, a Igreja Católica promoveu o encontro de civilizações pelo ecumenismo, a ideia central do Concílio Vaticano Segundo.
Neste momento, só a coragem moral de um Papa no seu amor à humanidade é capaz de denunciar o erro da guerra, não importa quem a defenda. Isso porque ele tem as suas divisões, com as quais pode defender todos os homens: caridade, temperança e misericórdia.