Onde quer que exista uma sociedade, os homens têm a possibilidade de inserir a auto-realização da sua natureza individual nas hierarquias de diferenciação social. Mas esta possibilidade é ambígua. De um lado, entre os extremos de igualdade e desigualdade total, que não podem existir na realidade, resta um amplo espaço para a configuração histórica, em que as oportunidades de liberdade podem-se manter ou também perigar. Por outro lado, e sobretudo, a desigualdade de estratificação social, segundo vimos, supõe também a possibilidade de uma ameaça para as oportunidades de liberdade de todos. Quando se transforma de resultado em pressuposto do desenvolvimento pessoal, pode sua posição preponderante atacar a igualdade de nível e produzir diferenças qualitativas na hierarquia social, o que leva à negação da igualdade civil fundamental para todos. (DAHRENDORF, Ralf. Sociedade e Liberdade. Editora Universidade de Brasília: Brasília, 1981, p. 261-262.)